UM NOVO JEITO DE VER DEUS
Sentado na velha cadeira, cotovelos apoiados na mesa, estava o pai proferindo blasfêmias e heresias enfeiando ainda mais a pequena sala numa quase penumbra, não fosse a luz acesa num outro cômodo igualmente empoeirado.
Foram tantos xingamentos que chegou a espumar o canto da boca.
Por fim, talvez exaurido ou talvez por ter chegado ao fim do estoque de xingamentos, baixou a cabeça na mesa.
Na cadeira oposta, aproveitando a pausa, o menino falou: "Por quê xinga tanto, papai?
Essas coisas ofendem a Deus".
Ele levantou a cabeça.
Deus?
“E quem é Deus para decidir o que vou dizer?
Que Deus é esse que permite a um pai ficar desempregado não podendo cuidar de seu filho, única pessoa a quem tem no mundo?
Que Deus é esse que permite tragédias, doenças como câncer e aids e não impede guerras?
Um Deus que assiste a miséria.
Um Deus que manda dilúvios e admite ditadores.
Não, eu não quero esse Deus omisso, em quem não posso confiar.
Um Deus que vem perdendo batalhas há dois mil anos que cruza os braços e assiste tudo do trono.
Não, eu não quero esse Deus".
E deitou de novo a cabeça.
Aproveitando-se de novo da pausa, o menino falou.
"Deus não criou as tragédias, pelo contrário cria expectativas a partir delas, propicia esperanças onde não parece não ter mais.
Ele deu ao homem o livre arbítrio para decidir aonde ir, acontece que o homem se utilizando dessa independência, afastou-se de Dele, e aí quando as coisas dão errado, a culpa é de Deus?
Deus não criou a poluição, o desmatamento e por consequência, as catástrofes.
Ele deu ao homem um planeta com águas límpidas e matas verdejantes. Será que Deus foi omisso enviando Seu único filho para morrer na cruz pela humanidade?
Tempos antes, Deus ordenou a Abraahão que sacrificasse seu filho como prova de fidelidade, mas não permitiu que ele consumasse o ato.
Deus fez o mesmo pela humanidade, porém com ato consumado.
Jesus carregou nos ombros as dores e culpas dos homens.
Será que Deus não sofreu vendo Seu Filho sendo , chicoteado, cuspido, xingado?
Sim, mas havia um propósito mais grandioso, a morte de Jesus na cruz como prova de amor maior.
Por causa desse ato é que o mundo segue, sobrevive, pois muitas pessoas, infelizmente não todas, seguiram o mandamento maior Dele que é o amor ao próximo.
O mundo ainda segue justamente pelo ato de Jesus sofrer na cruz, um ato que evitou a tragédia maior que seria um mundo sem perdão e sem esperança.
Ainda que Deus tivesse culpa em todas as tragédias que você citou, o que Jesus fez pela humanidade não seria motivo de agradecimento por parte dos homens?
A intolerância do homem para com Deus é do tamanho do amor de Deus pelo homem.
Portanto, Deus não é vingativo, é complacente, Ele perdoa o homem todos os dias”.
O menino parou de falar, o pai levantou a cabeça. “Filho...”, mas não concluiu a frase ao ver a imagem do menino envolto por uma aura branca fazendo uma silhueta de luz.
Repetiu. “Filho...”, ainda sem palavras para concluir, maravilhado com o que via, tocou a mão do menino sobre a mesa e a luz sumiu.
Por fim conseguiu concluir.
“Filho, onde aprendeu todas essas coisas bonitas que acabou de dizer?
Quem lhe ensinou tanta sabedoria?”.
O menino respondeu. “Papai, eu não disse nada. Estava apenas brincando de desenhar no meu caderno”.
E mostrou o desenho de uma cruz envolta numa aura branca semelhante à que minutos antes contornava seu corpo pequeno.
O pai fechou os olhos e compreendeu. “ O espírito de Deus esteve aqui. Deus usou a pureza de uma criança para falar comigo”.
Foi até o filho, e depois de abraçá-lo por instantes, saiu andando e o filho perguntou. “Aonde o senhor vai, papai?”.
Com olhos brandos, respondeu. “Vou para o meu quarto. Vou ali fazer uma oração. Agradecer a Deus por renovar a esperança em mim”.
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Que bom?
Obrigado, Carlos...
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