domingo, 6 de julho de 2025

Muito Além do Memorial

 





O dia amanheceu ocre por todo lado, uma sensação de outono inverno em seu coração invadiu o  espaço, lugar de residência, influenciando seu coração apertado por estar naquele lugar de saudade.
Fazia um tempo que não ia por lá, era tão doloroso ter que reviver tantas recordações e emoções que não tinha como não se emocionar.
Estacionou seu carro do lado de fora da alameda principal do sepulcrário.
Ficou parada no portão, parecia que não queria adentrar naquele nostálgico  lugar.
Na realidade, era um bloqueio emocional ao reviver tantas situações que jamais esperava sofrer, tão abruptamente.
Em suas mãos, levava cravos brancos num buquê amoroso tanto quanto havia sido o sentimento que ainda tinha em seu peito mesmo com alguns anos passados.
O lugar estava todo enfeitado de folhas mortas, secas como era sua vida há tempos.
Entre a dor do seu coração, o perfume das flores e a vontade de que não fosse verdade o que tinha acontecido, tinha que reviver. Entrou rápido, molhando o chão de lágrimas e pisando com força naquelas folhas como a descarregar vários sentimentos, inclusive um misto de dor e raiva.
Depositou o buquê fúnebre, fez suas preces e saiu rapidamente a buscar outro lugar onde reinasse o sol e o mar estivesse a lhe consolar o âmago.
O motorista dirigiu rapidamente, como que adivinhando seu ânimo tão amuado. Toda vez era assim, queria poupá-la de mais tristezas.
Deixou-a em seu lar, diante do pélago e guardado o carro na garagem, venceu mais uma dolorida viagem.
Ela trocou de roupa e foi ver seu mar sagrado para aliviar seu coração, a areia branquinha lhe deu outra sensação bem diferente daquele tapete de folhas mortas amareladas.
Teve fim aquela visita tão dramática que lhe revolvia as memórias de como já foi um dia tão feliz.
As marolas lhe beijavam os pés e a brisa lhe aquecia o coração, dando-lhe a sensação boa e carinhosa de sentir-se acolhida por aquele que estava com ela sempre, bem longe daquele simples memorial.





Participo da iniciativa da amiga Chica




9 comentários:

  1. UAU! Que lindo,Roselia! E sim, tivemos a mesma inspiração do lugar...
    Escreveste e descreveste tudo tão bem,que pide até ouvir o som dos passos amassando as folhas caídas!

    Lindo e que bom,após esse momento triste, poder se libertar da dor e ir de encontro ao mar! ADOREI!
    Obrigadão! beijos, chica

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  2. Bela História modelarmente conseguida.
    Uma Homenagem é uma Celebração. Perfeito.

    Beijo,
    SOL da Esteva

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  3. Olá amiga Roselia
    uma reflexão sensível sobre luto, saudade e a busca por consolo e paz interior, utilizando uma ambientação e linguagem que ressaltam a intensidade das emoções da personagem.
    Belíssimo conto minha amiga
    Aplausos pra você
    Beijinhos

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  4. O texto resultou lindo. E a estória - de saudade, de melancolia pela perda de pessoa amada - comovente.

    Beijo

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  5. Roselia, que delicadeza de escrita… Seu texto toca em camadas profundas da alma. Conduz a dor com um lirismo que transforma o pesar em poesia. Senti cada passo da personagem entre as folhas secas e o mar sagrado, como se o luto se dissolvesse nas marolas e voltasse em forma de memória viva. Há algo de profundamente espiritual nessa passagem entre o memorial e o abraço do mar.
    Obrigada por nos lembrar que, mesmo na ausência, existe acolhimento às vezes no vento, outras vezes na brisa que beija os pés.

    Com carinho,
    Fernanda

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  6. Um bom conto com toda arte de levar o leitor para dentro da cena, senti o pisar sobre folhas secas, o vento que uivava e levantava as folhas. Ouvi o pulsar do coração e o som das lagrimas caindo gradativamente sobre as mesmas folhas pisadas. Uma visita que carrega lembranças e melancolia, mas que é preciso em cada ano ser superada como uma homenagem carinhosa.
    Belo trabalho querida amiga.
    Bjs e bom domingo de feliz e iluminada semana.

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  7. O passado serve-nos para fazermos nascer o presente. Então, que se (re)nasça de pés assentes no que fizer o presente sempre melhor.

    Beijinhos e boa semana, amiga Rosélia!

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  8. Depois da dor finalmente no mar consolo encontrou, querida Rosélia
    Tocante conto.
    Linda semana
    Beijinhos
    Verena

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  9. Um conto de saudade e homenagem, mas o presente através do mar acolheu e revigorou. Amei. Boa noite

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