(da net)
Um amigo meu comprou uma casa velha demais de um século, conservada, como muitas que existiam naquela região. Muitas coisas a serem consertadas. Tudo teria que ser pintado de novo.
Antes de pintar com as cores novas, ele achou melhor raspar das paredes a cor velha, um azul sujo e desbotado. Raspado o azul, abaixo dele surgiu uma cor rosa, mas velha ainda que o azul. Raspou-a também.
Aí apareceu o creme e depois dele surgiu uma cor rosa, mais velha ainda que o azul, raspou-a também. Aí apareceu o creme, e, depois do creme, o branco.
Cada morador havia coberto a cor anterior com uma cor nova e assim ele foi indo.
Pacientemente, camada por camada. Queria chegar à cor original, que apareceria depois que todas as camadas de tintas fossem raspadas. Finalmente o trabalho terminou.
O que encontrou foi uma surpresa inesperada que o encheu de alegria. Mais bonito que qualquer tinta: madeira linda, o maravilhoso pinho de riga, com nervuras formando sinuosos arabescos cor castanha contra um fundo marfim.
Parábola: somos aquela casa ao nascer, somos pinho de riga puro. Mas logo começam, demãos de tinta.
Cada um pinta sobre nós a cor de sua preferência. Todos são pintores: pais, avós, professores, padres, pastores. Até que o nosso ser verdadeiramente desaparecer.
Claro, não é com tinta e pincel, é a fala. São as palavras.
Falam, as palavras grudam no nosso ser, entram na carne, ao final, o nosso ser está coberto de tatuagens da cabeça aos pés.
Educados, quem somos?
"O intervalo entre os nossos desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de nós." Responde Álvaro Campos.
“Procuro despir-me do que aprendi. procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos.
Desencaixotar minhas emoções verdadeiras. Desembrulhar-me e ser eu, não ALBERTO CAEIRO, mas um animal humano que a natureza reproduziu. Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!) exige um estudo profundo, uma verdadeira aprendizagem de desaparecer."
Uma desidentificação.
(Primeiro post em 2009).
O tema de hoje tem a ver com o mote da comemoração entre amigos... dou pistas a semana toda até o dia 22.
Querida Rosélia
ResponderExcluirQue lindo tema nos traz para esta comemoração dos 16 anos do
Espiritual-Idade: A Amizade.
"Amigo que é amigo não puxa tapete". Adorei ouvir Zélía Duncan e Simone.
E trouxe também Álvaro de Campos e Alberto Caeiro. Excelente!
Aguardamos mais sugestões e procuraremos segui-las.
Beijinhos
Olinda
Interessante perceber as camadas que cada um dá às paredes de nossas casas e vidas... Gostei do texto e de ver o teu primeiro, em 2009,já 16 anos atrás...
ResponderExcluirVamos aguardando ourtra dica!
beijos praianos, chica
Ontem, enquanto meu filho passava uma camada de uma massa para nivelar os muros, conversávamos sobre as camadas que ele teria que receber para ficar como novo novamente e o assunto com que você nos deu como pista para a comemoração de seu blog, foi sobre as camadas e ele me dizia: _"nascemos purinhos e os pais vão falando, falando e tudo vai sendo imprimido e ele, Rosélia, foi seguindo o raciocínio, traçando uma perfeita linha do tempo, mas ("trazemos a alma vestida) sabemos raspar as tintas das quais vamos nos pintando? Aguardando... Bjs!
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirLindo texto, leva-nos a perceber o quanto nossa vida é influenciada na construção.
Parabéns pelo lindo espaço..
Abraços Loiva
Um lindo e reflexivo texto . O que somos realamente debaixo das camadas de tinta que recebemos durante a vida toda ?
ResponderExcluirUm belo texto bem reflexivo que sugere muitos temas, entre eles o autoconhecimento, o autoengano, mudanças, entre outras. Curiosa com as novas dicas.
ResponderExcluirNada é por acaso, li um texto que fala desta persistência do descascar até encontrarmos o mais fiel possível do nosso ser desnudo.
Bjs Boa semana
Para completar meu raciocínio a amizade é um bom tema e espelho para o autoconhecimento. BJs
ResponderExcluirBoa tarde Amiga Rosélia,
ResponderExcluirQue texto sublime com que iniciou o seu tão especial Espiritual-Idade!
Nunca tinha pensado em como vamos acumulando camadas que nos são apostas por quem vamos tendo contacto, principalmente antes da idade adulta.
Penso que há um momento em que tentamos resistir tentando sermos nós próprios, mas os vincos psicológicos negativos custam a "limpar".
Revi-me neste texto maravilhoso.
Gostei imenso das citações de Álvaro de Campos e Alberto Caeiro. No fundo Fernando Pessoa foi um misto de todos eles.
Sempre que puder virei espreitar as dicas para o primeiro post de celebração dos 16 aninhos de vida do Blogue!
Beijinhos e uma tarde muito abençoada.
Emília
Boa tarde Rosélia
ResponderExcluirGostei demais do texto e de ver a foto do antes e depois.
As citações foram muito bem escolhidas.
E a música também.
Parabéns Amiga.
Deixo um beijo.
:)
Texto belíssimo Rosélia!!
ResponderExcluirPerfeito para comemorar os 16 anos de seu blog Espiritual-Idade, que já começa muito criativo no próprio nome.
Somos assim, pinceladas por camadas de tinta durante toda a vida. E será que no final nos tornamos resquícios do que verdadeiramente éramos?
Que reflexão primorosa amiga!
Ahh e o seu primeiro post de 2009 foi tão significado que permanece atualíssimo!!
Amei a canção, muito bonita...Música que encanta a alma...
Parabéns por ter um blog lindo e tão longevo amiga, é para poucos!!!
Beijos e uma semana de muitas comemorações!!
O fato é que nem todos percebem que receberam camadas e mais camadas de "tinta", que acabaram por definir quem eles são. Os que dizem, como Alberto Caeiro: "Procuro despir-me da tinta com que me pintaram", já são espíritos mais adiantados, que notaram as influências que lhes foram impingidas (que, muitas vezes, encobrem o verdadeiro feitio de suas almas). Poucas pessoas estudam a si mesmas a fim de se conhecer. Nos conhecermos, porém, é um dos nossos primeiros deveres.
ResponderExcluirMinha amiga, já começaste o blog lançando um assunto instigante, hein? rsrs. Belo post!
Beijo e boa semana
Lindo o texto e as citações.
ResponderExcluirA amizade é um farol que ilumina o nosso caminhar.
Beijinhos
Somos um pouco de todos que interagem conosco; precisamos cuidar de não deixarmos de sermos nós mesmos. E vamos comemorando esse grande aniversário.
ResponderExcluirUm abraço. Tudo de bom.
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