sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A Herança que Recebi e vou Deixar


Vivemos numa sociedade cuja palavra de ordem é: compre! São tantas as seduções que você jura que não conseguirá ser feliz se não tiver uma jaqueta de grife e um celular que caiba na palma da mão. E assim vamos acumulando coisas durante a vida, às vezes mais preocupados em possuir do que em desfrutar. Será que precisamos mesmo desta parafernália toda?

Não há nada de errado em comprar coisas das quais gostamos, sejam elas necessárias ou supérfluas. Se o dinheiro foi ganho com o suor do nosso rosto, temos mais é que satisfazer nossas vontades. O que não podemos é ficar presos emocionalmente a objetos cujo valor é muito relativo.

É de Thoreau uma frase sábia: "Um homem é rico na proporção do número de coisas de que é capaz de abrir mão". Eu me sinto milionária sob este ponto de vista, pois apesar de gostar muito de conforto, sei que poderia me desfazer tranqüilamente de quase tudo o que me cerca, ou ao menos trocar por similares mais simples. Quando morei fora do país, montei toda uma casa. Escolhi com carinho o tecido dos sofás, as luminárias, a louça, dedicando-me a cada detalhe. Na hora de voltar ao Brasil, vendi absolutamente tudo, das cadeiras aos talheres, da geladeira aos colchões. O que trouxe comigo? O indispensável: livros, discos e duas gravuras, que para mim eram muito mais caros do que a mobília inteira.

Adoro meus tapetes, meus brincos, meu carro, mas me livraria deles com um sofrimento muito menor do que se fosse obrigada a me desfazer de fotografias, por exemplo. Quando chegar lá na quarta idade, espero poder presentear as pessoas que amo com tudo o que estiver a minha volta e distribuir minha herança em vida. Comigo, até o fim, quero apenas minha memória, uns poucos livros para me distrair antes do sono, meus discos preferidos (caso ainda não esteja surda), um secador de cabelos (pois velha também tem vaidade) e os destinatários da minha verdadeira fortuna, a quem deixarei minhas idéias, meu afeto e minha vivência.

(Martha Medeiros)

5 comentários:

  1. Lindo texto amiga.
    Eu sei o quanto é difícil desapegar de bens materiais... Infelizmente é assim. Mas claro que dou mais valor aos sentimentos, sem dúvida. Esses sim serão uma ótima herança :)

    Beijo grande!

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  2. Oi, querida!

    Adorei teu post - este é o segundo comentário que tento postar, tomara que desta vez consiga!

    Estava preparando meu post sobre o mesmo tema, sob um outro ponto de vista... e aí li esse link no feed de notícias do Fb e não resisti, vim ver!

    No meu caso, vou falar sobre uma experiência que fizemos com nossa filha, sobre montagem do pinheiro de natal. Depois confere lá!

    Ah, conheces o CD Celebrai? Meu pai fez a locução de um culto (com orientação de pastor luterano) e um coral acompanhava. Tem o hino Nada te Turbe. Ficou muito lindo!!!

    Beijo!
    Ingrid

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  3. Muito lindo, um show de texto da Martha Medeiros...realmente precisamos de tão menos do que supomos para sermos felizes...beijinhos e sublime final de semana amiga...
    Valéria

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  4. Bonito texto.

    Beijo e bom final de semana.

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  5. Essa herança sua é a que tem mais valor, o afeto que tem e distribui para as pessoas.
    Bom fim de semana.
    Gdbeijo

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