domingo, 23 de agosto de 2009

Natal ( III )


Publicado em 23 de dezembro de 2008 no http://espiritual-idade.spaces.live.com/
Tirando a nossa criança das prateleiras da saudade
(Maria Nélia Vale Cipriano)

Cativar é Amar
Amarrar, soltar.
Voar, voltar,
Disso falava a música.
Saudades de quê? De quem?
Estou triste. É a música? Foi a chuva? Saudade e tristeza estão  necessariamente juntas?
A cantiga me lembra infância, pureza tempo perdido, longínquo, de fantasia.
Tempo bom de procurar no quintal varinhas de condão, de fazer cozinhando, de batizar e casar as bonecas... e chupar laranja no pé, de ir tomar banho no rio, de brincar de passar anel e cabra cega na rua.
Ah! Os biscoitos de polvilho da dindinha, raspar o doce de leite no tacho, comer a montanha russa da mamãe nos dias de festa.
E  a palha benta nos dias de chuva forte. Cuidado com os espelhos, menina!
Esconda as facas, guarde as tesouras! - Olha o raio!
E a gente na janela olhando a chuva a cair, cheirinho bom de terra molhada e enxurrada carregando folhas e nós, crianças, de pés descalços, brincando nas poças d'água.
E o céu? Meu Deus Que céu! Que azul! E lá ficávamos, deitadas na grama, contando os carneirinho, vendo as bruxas, monstros, anjos, fadas e bichos nas nuvens  passavam.
Por que era tão bom? E por que não é mais?
Saudade! Quanta saudade do interior, mas também de uma vida mais calma, com tempo para brincar, parar, olhar a chuva, o céu, a grama, o rio.
Parar, redescobrir o tempo, não fazer nada, mas cheirar, ver, ouvir, sentir, tocar, amar.
É isso: sentir mais, ser mais ouvido, mais visão, mais olfato, mais corpo, mais fantasia, ser mais criança, mais coração.
Ser  mais eu! Redescobri a criança que fui."


Hoje foi um dia interessante, ou melhor, por um descuido, tornou-se uma tarde-noite diferente que me fez despertar para a minha criança interior bem sufocada pela agitação dos últimos dias ainda que sadiamente alimentada pelo carinho recebido de tantos que me querem bem.
Foi exatamente pelo contratempo, que me reportei a esta mensagem escrita acima e resolvi postá-la.
Depois, percebi que tem tudo a ver com a Natal... aí fiquei mais surpresa com as "pistas" que Deus nos vai dando ao longo do dia...
Saí de casa junto com meu filho... nem me lembrei da chave... quando retornei, não pude entrar... ele estava longe a trabalho... fiquei um par de horas "solta"... ainda na escada da entrada do meu apto, "imobilizada"(estava cansada também), fui consolada por um menino de sete anos (um vizinho do condomínio); depois de averiguar com atenção o motivo que me colocava impossibilitada de entrar, veio com a solução: Um jogo de dominó... daqueles que eu brinquei tanto quando criança...
Ganhei algumas vezes e perdi outras... Mas empatamos... no final... quando ele teve que se arrumar para ir com o pai ... ao parque... destes que aparecem na cidade quando é férias... e que eu também gostava tanto...
Interessante que fui "obrigada" a jogar... não podia "quebrar o encanto" do menino que pensava com a certeza interior que estava (segundo ele) me "salvando"...

Natal é tempo de agradar às crianças... como eu ficava feliz com a chegada do Papai Noel em que eu acreditava piamente com a inocência linda de criança desde então romântica...
Eu coloquei uma vez um pedaço de manjar com ameixa para o Papai Noel... e não é que ele comeu? Na manhã seguinte estava o pratinho vazio... e eu com a boneca preferida... toda feliz...
Como é bom ser criança!

Pena que os meninos de hoje não vivenciam a fase infantil integralmente, as "etapas" são "queimadas"...
Brinquei muito, tínhamos muitos primos, cada um diferente do outro... de pique esconde, de pular corda, de amarelinha...mas o que mais gostava? Era de passar anel... de brincar de roda... de ser professora... de casinha...
Nestes dias vi muitas crianças alegres... hoje mesmo no supermercado uma criança dizia para seu pai: "Papai, nossa ceia vai ser linda!" Ela tinha um brilho no olhar...
Também pude conhecer neste final-de-semana, um menino que chama seu pai de papai... coisa rara hoje em dia... nem mesmo os pequeninos dizem assim...
Comentei isso com o pai dele... achei bonito demais.
Também pude saborear essa convivência desse pai com seu filho chamando-o de "meu amor"... coisa também não menos rara...
Fico pensando (afinal é Natal) como os filhos crescem! E como tudo muda!
Meu netinho também chama meu filho de papai... que lindinho!
A gente encurta o amor e encurtando os sentimentos, vai encurtando as palavras mais lindas que já aprendemos...
Ainda bem que algumas pessoas especiais insistem em acreditar na força persuasiva do amor e que vale a pena 'investir' nos afetos... pois são o que nos fortalecem quando o sol não brilhar tanto como nesta época de Natal.
Que cada vez que eu me esquecer de ser pura como criança, Deus me faça esquecer a chave!


Um comentário:

  1. Gina escreveu:
    Amei esse post, ótimas lembranças!!! Ah, naquele ano do manjar com ameixa, papai noel ainda deixou o caroço da ameixa como prova de que tinha comido. Você colocava o sapatinho na janela pra receber o presente de Natal... até que um ano os adultos ficaram rindo meio às escondidas e fiquei cismada com aquilo...
    As oportunidades de elogiar não devem ser perdidas e você fez bem em ter comentado com o papai do menino que o chamava de PAPAI.
    Adorei a frase final.
    Bjs.

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