sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Esquecer Para Lembrar +


Publicado em 15/11/2008 no http://espiritual-idade.spaces.live.com/

EM TUDO SEJA DEUS GLORIFICADO!
 (S. Bento)

Um amigo meu comprou uma casa velha demais de um século, conservada, como muitas que existiam naquela região. Muitas coisas a serem consertadas. Tudo teria que ser pintado de novo.
Antes de pintar com as cores novas, ele achou melhor raspar das paredes a cor velha, um azul sujo e desbotado. Raspado o azul, abaixo dele surgiu uma cor rosa, mas velha ainda que o azul. Raspou-a também.
Aí apareceu o creme e depois dele surgiu uma cor rosa, mais velha ainda que o azul, raspou-a também. Aí apareceu o creme, e, depois do creme, o branco.
Cada morador havia coberto a cor anterior com uma cor nova e assim ele foi indo. 
Pacientemente, camada por camada. Queria chegar à cor original, que apareceria depois que todas as camadas de tintas fossem raspadas. Finalmente o trabalho terminou.
O que encontrou foi uma surpresa inesperada que o encheu de alegria. Mais bonito que qualquer tinta: madeira linda, o maravilhoso pinho de riga, com nervuras formando sinuosos arabescos cor castanha contra um fundo marfim.

Parábola: somos aquela casa ao nascer, somos pinho de riga puro. Mas logo começam, demãos de tinta.
Cada um pinta sobre nós a cor de sua preferência. Todos são pintores: pais, avós, professores, padres, pastores. Até que o nosso ser verdadeiramente desaparecer.
Claro, não é com tinta e pincel, é a fala. São as palavras.
Falam, as palavras grudam no nosso ser, entram na carne, ao final, o nosso ser está coberto de tatuagens da cabeça aos pés.
Educados, quem somos?
"O intervalo entre os nossos desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de nós." Responde Álvaro Campos.


“Procuro despir-me do que aprendi. procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos.
Desencaixotar minhas emoções verdadeiras. Desembrulhar-me e ser eu, não  ALBERTO CAEIRO, mas um animal humano que a natureza reproduziu. Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!) exige um estudo profundo, uma verdadeira aprendizagem de desaparecer." 
Uma desidentificação.


2 comentários:

  1. Este texto recebi no final do Curso Eneagrama, ministrado por Pe. Beto e, desde 2000, tenho procurado ir raspando em mim as diversas camadas de "tinta" com que me foram "pintando"...

    Não resta a menor dúvida de que são muitos os que me facilitam o trabalho exaustivo: amigos, filhos, parentes, humilhações, desprezos, o amadurecimento da própria idade que se avança...

    Não sou ainda pinho de riga puro mas confesso que desejo ser (como criatura feita pelas mãos do Criador) um pouco menos "desfigurada" com o avanço dos anos e, por suposto, com diversas mãos de tinta...

    Curioso que a cada dia me sinto como numa das inúmeras camadas...hoje, por exemplo, nesta hora, me sinto azul, mas há algumas horas atrás, tenho certeza de que estava na cinza...

    Não sei a distância de uma cor ou outra, se progredi ou não...

    Quanto tempo ainda estarei assim tão matizada?

    Hoje ponho em aberto o meu grande desejo de aceitar ajuda nesta exaustiva tarefa de aprendizagem de minha des-identificação.

    O convite sugere sua participação, pois o meu próximo também é agente indispensável nesta corajosa Missão.

    Atenciosamente,

    Roselia.

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  2. Ah, eu adorei o texto, Rosélia! Vou acrescentar como sugestão de link! Olha, é compreensível que vamos sendo moldados com o passar do tempo, a educação, a convivência social exigem isso, mas é preciso o cuidado para não ultrapassar a linha entre o que precisamos fazer para viver bem em sociedade e deixarmos de ser felizes de fato. É preciso que a pintura essencial agregue elementos, e não se esconda sob eles.
    Um abraço!

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